ATA DA
TRIGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA
LEGISLATURA, EM 21.10.1987.
Aos vinte e
um dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se,
na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto
Alegre, em sua Trigésima Nona Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa
Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear os setenta anos de
fundação do Centro Israelita Porto-Alegrense. Às dezoito horas e cinco minutos,
constatada a existência de “quorum”,o Sr, Presidente declarou abertos os
trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as
autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da
Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. Simão Cogan,
Presidente do Centro Israelita Porto-Alegrense; Rabino Ephain Guinsberg,
Grão-Rabino Ortodoxo do Rio Grande do Sul; Dr. Samuel Burd, Presidente da
Federação Israelita do Rio Grande do Sul; Dr. Salus Finkelstein, Presidente da
Organização Sionista do Rio Grande do Sul; Eng. João Antônio Dib, ex-Prefeito
Municipal de Porto Alegre; Sr. Leonel Ricardo Tonniges, representando neste
ato, o Dep. José Ivo Sartori, Secretário Estadual da Ação Social e Comunitária;
Sr. Wilson Muller, representando a Direção da Rede Brasil Sul de Comunicações e
Fundação Maurício Sirotsky; Ver. Isaac Ainhorn, proponente da Sessão e, na
ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Clóvis Brum, em nome da Bancada
do PMDB, homenageou os setenta anos de fundação do Centro Israelita
Porto-Alegrense,congratulando-se com a comunidade judaica por esta data. Teceu
breve comentário sobre essa sociedade, suas origens, qualidades e aspectos,
enfatizando o carinho e o apreço desta Casa aquele Centro, bem como à
comunidade israelita de Porto Alegre.O Ver. Aranha Filho, em nome da Bancada do
PFL, citando máxima da Encíclica “Populorum Progressio”, disse que “cada homem,
como membro de uma sociedade, é membro de uma civilização”, enfatizando a
importância do Centro Israelita Porto-Alegrense para a comunidade judaica.
Congratulou-se com aquele centro pela passagem de seus setenta anos de
fundação. O Ver. Jorge Goularte, em nome da Bancada do PL, disse da justeza da
presente homenagem, declarando ter recebido de um membro do comunidade judaica
grande incentivo a sua carreira política. Congratulou-se com o Centro Israelita
Porto-Alegrense, pela data de hoje, comentando sua importância para a comunidade
judaica. Ressaltando as finalidades sociais daquele Centro, disse da grandeza
dos homens que por ali já passaram. E o Ver. Isaac Ainhorn, em nome da Bancada
do PDT, falou da importância da realização, por esta Casa, de Sessões em
homenagem às diversas comunidades que compõem a sociedade brasileira, tendo em
vista ser o Brasil um país civilizado por vários povos que para cá imigraram.
Disse que, como membro da sociedade israelita, aprendeu a amar o Centro
Israelita Porto-Alegrense, onde são ensinados os princípios éticos e morais que
até hoje norteiam sua vida. A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao
Sr. Simão Cogan, Presidente do Centro Israelita Porto-Alegrense, que agradeceu
a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Sr. Presidente fez pronunciamento
alusivo à solenidade, convidou as autoridades e personalidades presentes a
passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os
trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e nove minutos, convocando os Senhores
Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos
foram presididos pelo Ver.Brochado da Rocha e secretariados pelo Ver. Isaac
Ainhorn, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. PRESIDENTE: Estão abertos os trabalhos
da presente Sessão Solene destinada a homenagear os 70 anos de Fundação do
Centro Israelita Porto-Alegrense.
Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, que falará em nome do PMDB.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores: tem sido quase que uma praxe esta
Casa se reunir em momentos solenes, como este, para homenagear a comunidade
judaica do Rio Grande do Sul. E hoje, Sr. Presidente e Srs. integrantes da
Comunidade Judaica, a oportunidade que nos oferece o abnegado Vereador desta
Casa, Ver. Isaac Ainhorn, na qual possamos, neste momento homenagear o Centro
Israelita de Porto Alegre, a mais antiga organização Israelita constituída
desde um longínquo 1917 para organizar política e socialmente a comunidade
Judaica que aqui chegava quando os primeiros momentos de perseguição se fazia
notar nos lugares mais distantes da nossa América, quando se iniciava e se
deslumbrava, Sr. Presidente e Srs. homenageados, aquele início de uma seqüência
interminável de perseguições e de violências que esta família abnegada e
trabalhadora constituída por esta comunidade tão fina, tão educada e tão trabalhadora
que se fazia sentir.
O Brasil está intimamente ligado com a sua comunidade. Não só pelo
trabalho que os senhores desempenharam ao longo dos anos em prol do
desenvolvimento econômico, social e cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil,
não só pelo que os senhores representam em termos de companheirismo, não só
pelo que os senhores representam em termos de dedicação, de exemplo histórico,
mas também pela intervenção dos nossos antepassados na consolidação do seu lar
nacional.
Há pouco eu falava com o meu querido amigo Jaime. Dizia a ele que o meu
discurso seria bem diferente dos anteriores, seria marcado pela simplicidade,
pelas coisas que nascem espontaneamente do coração. Pelas coisas que traduzem a
minha posição política a respeito do sionismo nesta Casa. Sionismo que tenho
defendido não como um movimento paramilitar, muito pelo contrário e
contrariamente ao voto brasileiro, mas movimento que diz da alma de um povo ao
retorno e ao direito de retorno ao seu lar nacional, a sua dignidade como povo,
a sua dignidade como gente, como nação. Assim eu vejo o sionismo. O meu
discurso é quase caseiro, para não dizer quase de casa.
Mas o Centro Israelita acima de tudo é o grande homenageado desta tarde
e repito, por iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn, por que esta repetição, por
iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn? Porque o Requerimento do Ver. Isaac Ainhorn
renova uma prática na Casa. Renova uma ação que não é praxe nesta Casa.
Raríssimas vezes, se não me falha a memória deve ser a primeira. Não. Já houve
outras vezes, mas raríssimas vezes a Câmara suspende a sua Sessão Ordinária
para realizar uma Sessão Solene. Isto é uma demonstração de apreço, de carinho
que esta Casa tem com a comunidade judaica do Rio Grande do Sul. Isto
representa o apreço que os 33 Vereadores de Porto Alegre têm pelo que
representa a comunidade judaica no processo econômico, político, social e
cultural do Rio Grande do Sul e do Brasil. Notadamente o Centro Israelita, a
sua entidade mais antiga, o pedúnculo da organização política e social sediada
no coração desta Cidade, aqui alicerçada pelo carinho e admiração de todos nós.
Consolidada esta instituição pela decisão brasileira na ONU. Consolidada esta
instituição pela admiração e apreço de todos os gaúchos e brasileiros.
Consolidada esta instituição por este ato solene de reconhecimento e de apreço
e de homenagem acima de tudo a longa existência de sua entidade.
Senhores da comunidade judaica foi um prazer muito grande, uma
satisfação muito grande que o partido do Movimento Democrático Brasileiro, o
PMDB, nesta tarde, de estar presente e de fazer ouvir nesta justíssima
homenagem. Parabéns à direção do Centro Israelita de Porto Alegre. Parabéns à
comunidade judaica. Que a organização, o trabalho e o exemplo dos senhores seja
seguido por outras entidades de irmãos nossos de outros países que aqui
aportam. Todos são bem-vindos. Mas, incontestavelmente, o carinho e a admiração
que tem recebido da CMPA prova a distinção que temos pela comunidade judaica.
Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Aranha
Filho, que falará em nome do PFL.
O SR. ARANHA FILHO: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: cada homem é membro da sociedade e pertence à
humanidade inteira. Não é apenas tal ou tal homem. As civilizações nascem,
crescem, e morrem, assim como as vagas na enchente da maré avançam sobre a
praia, cada uma um pouco mais que a antecedente, assim a humanidade avança no
caminho da história. Herdeiros das gerações passadas e beneficiários do trabalho
dos homens contemporâneos, temos obrigações para com todos e não podemos
desinteressarmo-nos dos que virão depois de nós, aumentando o círculo da
família humana. “A solidariedade universal é para nós, não só um fato e um
benefício, mas também um dever”. (Retirado da Encíclica Populorum Progressio.)
O Ecumenismo das palavras que citamos se adeqúam perfeitamente aos
valores permanentes cultuados pelo Centro Israelita Porto-Alegrense, desde a
antigüidade com o Rei Davi e a Rainha Ester que representam o caráter e a
honradez do homem e da mulher israelita.
Renovo, neste momento, a honra em falar em nome da minha Bancada, o
PFL, comemorando e reverenciando os setenta anos de fundação desse esteio da
nossa comunidade judaica, que é o Centro Israelita.
A esse Centro que é uma universalidade promovedora da tradição, colam
todas as festividades, desde as colegiais até as religiosas, perpetuando a
grandeza de uma nacionalidade.
Assim, a força da religião judaica se somando às atividades
desenvolvidas no Centro Israelita materializam o sustentáculo de um povo, cujos
sentimentos foram mantidos durante milhares de anos, mesmo faltando a
soberania. Prestem atenção no que vou ler:
(Lê.)
“Certa vez, um rabino viu um velho plantando uma árvore e perguntou-lhe: / Quando está árvore dará frutos? / Dentro de setenta anos, respondeu o velho. / Esperas viver setenta anos e comer o fruto do teu trabalho? / Quando vim ao mundo, não encontrei um deserto, replicou o velho. Os meus antepassados plantaram para mim antes que eu nascesse. Assim, eu plano para os que vierem depois de mim”.
Sem hesitar e com orgulho parafraseamos o velho plantador, dando o
mesmo sentido ao Centro Israelita que homenageamos.
Shalon!
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A seguir, concedemos a palavra
ao Ver. Jorge Goularte, que falará em nome da Bancada do PL.
O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, Srs. convidados: libero e hoje, tomo a liberdade de fazer uma
confidência, em quem recebi um dos maiores incentivos, como político, em minha
vida, ele sabe qual foi, uma única frase.
Comunidade judaica aqui presente eu me desculpo por estar com problemas
de garganta, mas não poderia estar fora desta Sessão, mesmo que fale desta
forma.
Portanto, aqui estou, me desculpando, antecipadamente, pela voz.
O Centro Israelita foi fundado em 12 de setembro de 1917. Tem,
portanto, 70 anos e sempre foi e é muito mais do que um centro de um clube, de
uma Associação. É um aglutinador de homens, de idéias, de costumes e acima de
tudo, procura fazer a integração do povo judaico, procurando manter acesa a
chama do Judaísmo, da religião e a chama da amizade, porque seu meio recebe,
não apenas judeus, mas também os não judeus, amigos do povo Judeu, como este
Vereador se considera. No Dia do Perdão tive o prazer de permanecer durante
toda a solenidade, dada a fidalguia com que fui recebido no Centro Israelita.
Por isso, apenas trazendo a palavra de incentivo ao Centro Israelita, dizendo
que esta pujança de homens que passaram pelo Centro Israelita, durante tantos
anos e que serão citados, tenho certeza, pelos outros oradores, merecem de
todos nós uma consideração enorme por terem trazido esta garra e esta chama,
durante todo este tempo e, agora, será levada para as gerações futuras pelos
que hoje o dirigem e pelos que os dirigirão no futuro.
O Centro Israelita não foi apenas, como eu disse, um Clube, ele teve
inclusive no seu meio, em suas instalações, uma Cooperativa destinada a amparar
os ambulantes, os antigos prestações. Teve um Banco. É teatro, é cinema, às vezes,
faz festas, solenidades e recebe. Não só, repito, a comunidade judaica, mas até
os judeus por opção, como temos tantos em Porto Alegre, entre os quais me
permito incluir pela bondade com que sou tratado pelo povo judeu.
E, para homenagear o Centro Israelita, tomei a liberdade de me
antecipar e quero passar às mãos do Presidente, hoje, encerrando esta modesta
homenagem, três projetos de lei, nos quais homenageio, não apenas o Centro
Israelita, mas a comunidade judaica, pelo grande e muito que esses homens
fizeram pela comunidade. Eu falo de Israel Starosta, David Cherman e Bernardo
Tschermin. Estão tramitando, nesta Casa, estes Projetos que visam homenagear
não apenas o Centro Israelita mas a comunidade judaica de Porto Alegre, do Rio
Grande do Sul. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Isaac
Ainhorn, que falará em nome do PDT e como autor da proposição.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: é muito importante que a Câmara Municipal de
Porto Alegre, uma instituição política que já existe há mais de duzentos anos,
a representação política da Cidade de Porto Alegre, realize e preste alguma
homenagem especial num País como o Brasil, que foi todo povoado com base em
correntes migratórias, um País em que toda a sua estrutura se constitui num
verdadeiro cadinho racial, de correntes migratórias as mais diversas, desde a
presença portuguesa à presença africana, através do braço escravo, que para cá
veio. A colonização que se inicia no século passado de italianos, alemães e,
mais recentemente, a presença judaica no Estado do Rio Grande do Sul, todas
essas correntes migratórias, a compreensão deste fenômeno das migrações, que
aqui se operaram e que aqui se realizaram, é muito importante, sobretudo para a
comunidade judaica e para esta instituição, que hoje tem setenta anos de
história, e a qual já é possível denominar-se instituição, pelo tempo e pelos
relevantes serviços que prestou nesses seus setenta anos de existência. Mas o
mais importante de tudo é perquirirmos as raízes históricas da sociedade. E
vamos observar que, na formação da sociedade rio-grandense, algumas questões se
colocam importantes, no que diz respeito à presença da colonização judaica no
Rio Grande do Sul, que marca a sua presença neste Estado a partir do século XX.
Mas há um estudo extremamente interessante, que começa a ser desenvolvido e que
tem uma importância muito grande na busca das raízes históricas de toda a
formação da sociedade brasileira e, para nós, porto-alegrenses, mais importante
ainda, pois que diz respeito com a formação da sociedade porto-alegrense, que
tem como ponto de partida os casais açorianos. Estes casais, por algumas
observações de natureza empírica, do dia-a-dia de suas vidas, observou-se, exatamente,
observou-se que tinham alguma coisa a ver com a comunidade judaica, com as
raízes judaicas. E, para todos que estão aqui, o chamado fenômeno dos cristãos
novos, em decorrência de todo o processo da inquisição, que hoje começa a ser
aprofundado, é muito importante. Assim são alguns hábitos, como a limpeza da
casa na sexta-feira, que Moisés Eizirik cita com muita propriedade, como a
proposta de início de uma pesquisa e aprofundamento da presença da comunidade
judaica no Rio Grande do Sul e, sobretudo, em relação aos casais açorianos.
Assim também é o hábito de acender luzes nas noites de sexta-feira. Estes são
alguns elementos que marcam, inegavelmente, a presença da cultura judaica, já
há muito tempo arraigada na sociedade rio-grandense e na sociedade
porto-alegrense. Mas a história e a saga da comunidade judaica no Brasil, de
forma mais presente, ela tem as suas raízes onde se insere, exatamente, o
Centro Israelita Porto-Alegrense. Este já tem uma história e ainda se constitui
naquela presença de instituição social e beneficente, religiosa da comunidade
judaica porto-alegrense, uma das instituições que pertence à história da Cidade
de Porto Alegre. E aí está o sentido da homenagem que a instituição política, a
Casa Legislativa de Porto Alegre presta nesta tarde ao Centro Israelita de
Porto Alegre.
São exatamente seus 70 anos, sua história que prossegue, figuras,
algumas não presentes, mas uma que não podemos deixar de mencionar, a de Isaac
Starosta, que é o presidente de honra do Centro Israelita Porto Alegre e que em
relação ao seu irmão, o Ver. Jorge Goularte prestou tão merecida e justa
homenagem a Israel Starosta. Ao nosso Presidente que aí se encontra Aarão
Kosnitzer, a Waldemar Cantergi, Vice-Presidente da entidade, a Wolff Krumholtz,
que aqui está presente, Sr. Salus Filkenstein que também se encontra presente.
Por tudo isso, algumas coisas são extremamente importantes do ponto-de-vista da
compreensão do papel desta instituição.
A história dos 70 anos não pode ser contada por inteiro no curto espaço
de tempo de que dispomos, mas podemos traçar suas linhas mais claras lendo sua
primeira Ata onde seus fundadores deixaram suas assinaturas e quando Simão
Lerrer, seu primeiro presidente na diretoria provisória aprovava. Alguns dados
que a historiografia já registra são extremamente importantes e não poderíamos
deixar de registrar aqui. A preocupação dos seus primeiros dirigentes quando
Tobias Krasne refere que a primeira preocupação foi construir um cemitério
próprio, agindo com muito sigilo, relata Moyses Eizirik em sua obra e com o
auxílio do advogado, Dr. Vieira Pires - e aqui tem uma referência - cujos
honorários na época foram de alto custo de 600 mil réis, conseguiram a licença
para a instalação do primeiro cemitério localizado no bairro Tristeza. A
locação da nova sede, na rua Osvaldo Aranha, conhecida pelo Campo do Bom Fim,
234, esquina com a Felipe Camarão. Ali foi instalada uma sinagoga e uma Caixa
de Empréstimos.
Também, naquele ano, instalaram um açougue de carne “kasher” e
contrataram Isak Saitovich para ser o “shoichet” por 140 mil réis por mês e
Ichiel Franck como “shames”.
Em junho de 1918, o Sr. Natan Gulko foi enviado a Buenos Aires e
adquiriu um Sefer-Torá por um conto e 260 mil réis. Em 20 de março de 1920 foi
realizada a compra de dois chalés na rua Santo Antônio, 140, pelo preço
elevado, na época, de doze conto de réis. Registra o historiador que foi uma
iniciativa corajosa. Tiveram que dar dois contos de entrada, nem isso possuíam,
considerando que a maioria dos sócios era constituída de “ambulantes”, como
registrou também o Ver. Jorge Goularte, pode-se avaliar como foi difícil a
arrancada. Realizaram um espetáculo teatral para conseguir dinheiro, do qual
participaram membros da sociedade, improvisados em artistas, com suas barbas postiças,
apresentaram uma peça “idish”, humorística e musical.
Tantas histórias é possível contar, tantos registros podem ser feitos
numa Sessão de homenagem evocativa e que fizeram todo esse acervo religioso,
cultural e social da comunidade judaicas, de todas estas adversidade por que se
passou, porque bem acolhidos foram os nossos antepassados aqui aportaram e aqui
chegaram. A realidade e a história estão para mostrar que buscaram novas
paragens, novas terras para se viver, porque as nuvens negras com o anti-semitismo
e com os “progroms” da Rússia Czarista eram uma marca e um prenúncio daquilo
que iria acontecer anos mais tarde na Europa e que se constitui na maior
tragédia que um povo passou. E quando hoje se comemora os 70 anos do Centro
Israelita Porto-Alegrense, uma entidade que durante todo esse tempo foi
devotada aos princípios religiosos da religião judaica, devotada a reunir e
congregar a comunidade judaica.
Evidentemente que cada um dos senhores que hoje aqui se encontram têm
dezenas de histórias, algumas tristes e outras agradáveis, que formam a saga da
comunidade judaica neste século presente e de forma muito marcante. E os
ambulantes se tornaram em homens que lutaram com o seu esforço denodado,
podendo trabalhar, podendo exercer as suas atividades, aquilo que a Europa lhes
proibiu num determinado momento da sua história, aqui construíram os seus
estabelecimentos, constituíram as suas famílias, aqueles que tiveram a ventura
de vir no início do século, até 1935, para cá. Já em 1935 se prenunciavam todas
as dificuldades e muitos não conseguiram fugir das perseguições nos países da
Europa Oriental. E hoje nós nos encontramos aqui comemorando os 70 anos do
Centro Israelita Porto-Alegrense. É uma história e eu não tenho dúvida de que
daqui a 30 anos estaremos comemorando o centenário. O Rabino Guinsberg há
alguns dias atrás divergia de mim quando eu dizia que muitos de nós talvez não
estivéssemos no centenário, mas o Centro Israelita Porto-Alegrense estaria
presente. E ele se levantou e disse na oportunidade: “a única coisa que não
concordo, Vereador, é que daqui a 30 anos nós não estaremos aqui - eu estarei
aqui e quero juros e correção monetária da minha presença”.
Pois, para encerrar, isso que é um depoimento tranqüilo e caseiro, como
usou a expressão o Ver. Jorge Goularte neste final de tarde, já mais para verão
do que para a primavera, encerro dizendo que vivi - judeu que sou - parte,
pequena parte desta história de 70 anos. Aprendi com meus pais e com os mais
velhos a amar esta comunidade cujo ponto de coesão, sem dúvida, foi aquela
Associação que hoje homenageamos os seus 70 anos. E, sem medo de errar, posso
dizer convicto que vivendo neste meio amalgamei os princípios básicos de minha
vida, alicerçado ainda hoje na ética e na justiça social e, tenho certeza que
disso não me afastarei jamais, graças aos ensinamentos que recebi, ainda, desde
a infância, freqüentando o Centro que hoje faz 70 anos de lutas mas, acima de
tudo, de êxitos e de felicidades. Muito obrigado.(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, com
maior satisfação, ao Sr. Simão Cogan.
O SR. SIMÃO COGAN: Sr. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados: é com enorme satisfação que estamos aqui reunidos
para recebermos as homenagens que a Câmara Municipal, através de seus ilustres
representantes, presta ao Centro Israelita Porto-Alegrense pela passagem de seu
septuagésimo ano de fundação. Para nossa satisfação e alegria, quis o destino
que ao receber tão significativa homenagem estivéssemos nós na presidência do
Centro.
Vejo por outro lado com muita emoção a presença de muitos descendentes
daqueles que há 70 anos atrás se reuniram e fundaram nossa Sociedade.
Oriundos dos mais longínquos lugares da Europa, vindos da Rússia,
Polônia, Romênia e tantos outros lugares aqui chegaram para estabelecer um novo
lar e encontraram em nosso Brasil, e particularmente em Porto Alegre, a tão
sonhada paz e proteção.
Tiveram no entanto a necessidade de conservar as suas convicções, seus
costumes, suas tradições religiosas e em vista disso se reuniram e fundaram uma
sociedade que levou originalmente o nome de Sociedade Israelita Religião e
Misericórdia. Isto em 12 de Setembro de 1917.
Dita sociedade destinava-se a manter Sinagogas, Cemitérios; difundir e
propalar o auxílio mútuo tanto moral como material a todos os associados e
celebrar todas as festas religiosas israelitas bem como as grandes festas
nacionais.
Posteriormente, em 4 de maio de 1930, a sociedade passou a denominar-se
Centro Israelita Porto-Alegrense, sociedade civil de caráter religioso,
legalmente registrada, constituída de crentes da religião mosaica, podendo ter
número ilimitado de sócios sem qualquer distinção de cor, sexo, nacionalidade
ou profissão, sociedade essa que está hoje sendo homenageada e que com a graça
de Deus continua com os mesmos propósitos iniciais.
Quero aproveitar a oportunidade para me congratular e agradecer ao
brilhante e incansável Vereador Dr. Isaac Ainhorn pela proposição apresentada à
Câmara Municipal para que esta homenagem fosse prestada.
À Câmara Municipal, na pessoa de seu Presidente, dos seus ilustres
Vereadores das diversas bancadas, o agradecimento e reconhecimento eternos do
Centro Israelita Porto-Alegrense.
Finalmente, desejo neste momento lembrar aqueles que proporcionaram para
que o Centro Israelita seja hoje a realidade que é, para o que vou me permitir
ler os seus nomes: a todos a nossa gratidão, a nossa saudade e o nosso
respeito.
Sócios Fundadores: Abram Obender, Abraham Gontow, Abraham Rus, Abram
Dorfman, Abram Tessler, Anchel Finkel, Afonso Kassoy, Angelo Finkelstein,
Benjamin Urmann, Benjamin Kapelevitz, Bernardo Galperim, Bernardo Locchin,
Chapse Maltz, Chil Frank, Chulem Goldenfund, David, Berezinski, David Epstein,
David Boianovski, Elias Passarov, Ezekiel Becker, Gregorio Zeltzer, Guilherme
Melzer, Guilherme Soibelman, Henrique Gurovitz, Ichiel Haus, Isaac Saitovitch,
Joseff Lerner, Jacob Maltz, Jacob Pecis, Jayme Loybman, José Kottek, José Z.
Lerner, Julio Becker, Julio Dicler, Leão Bonder, Leão Lembert, Leão Waldman,
Leib Soibelman, Marcos Burd, Marcos Eizerik, Maurício Schames, Maurício Levin,
Miguel Kelbert, Natan Gulco, Natan Kottek, Naum Guinsburg, Pinches Kelbert,
Rafael Schustoff, Samuel Spiguel, Samuel Sustik, Simão Lerrer, Tobias Krasne,
Velvel Cotliar, Velvel Faerman, Wolff Baibich, Zeidel Schwartz, Zolman
Berdichevski;
Diretoria: Isaac Starosta - Presidente, Simon Cogan - 1º
Vice-Presidente, Arão Kosnitzer - 2º Vice-Presidente, Waldemar Cantergi -
Secretário, Leib Braude - 2º Secretário, Peissach Lewkowicz - Tesoureiro, Wolf
Krumholtz - 2º Tesoureiro, David Kautz - Diretor de Patrimônio;
Departamento Religioso: Smil Cupperstein, Leo Zylbersteyn, Jacob
Lerman;
Conselho Fiscal: Paulo Kreitckman, Israel Turkienitch, David Fialcov.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Como Presidente da Câmara de
Vereadores de Porto Alegre cabe, ao encerrar a presente Sessão, dizer que os
oradores que ocuparam a tribuna, falando pelas respectivas bancadas da Câmara
de Porto Alegre, representando a população de Porto Alegre, bem traduziram o
apreço, não apenas pessoal, mas da sua representatividade na Câmara como um
todo.
Por outro lado, permito-me acrescentar a contribuição no campo da
cultura, das artes, da ciência que a Comunidade Judaica trouxe a Porto Alegre,
em especial, o bem à terra que deu origem à história. Sem dúvida foi
incomparável, e não foi por acaso que os oradores lembraram tão bem até a
situação geográfica, onde se localiza o Centro Israelita. Para ali foram
atraídos os olhos da Cidade, porque de lá partiram, sem dúvida, iniciativas do
saber, do conhecimento e sobretudo da fraternidade humana que, sem dúvida
nenhuma, presidiu a nossa vivência na Cidade de Porto Alegre.
Não posso atravessar as fronteiras que circundam a nossa Cidade, Dr.
Dib, porque não é atribuição nossa, daí avançamos sobre outras áreas, mas posso
testemunhar, apenas na qualidade de vivente desta Cidade, a enorme contribuição
que deram a esta Cidade, ao seu enriquecimento e à sua grandeza, não somente em
termos materiais, mas sobretudo em espírito, em cultura, e sobretudo no sentido
de reunir raças e de confraternizar, um a um, com respeito mútuo das convicções
próprias que passam em cada um de nós, mas, sobretudo, reiterando o propósito
de dar um destaque ao nosso desenvolvimento e a nossa Cidade. Creiam que o
Centro Israelita trouxe, sem dúvida, uma contribuição inestimável. Um orador
chegou a frisar que nós parávamos a nossa Sessão Ordinária da Casa para
homenageá-los. Paramos, é verdade, talvez com algumas críticas normais em uma Democracia,
mas paramos para saudar aqueles que, de uma forma incisiva, contribuíram para o
nosso progresso, para a nossa grande Cidade, Porto Alegre, que nós tanto
amamos. E ela nos une e ela é parte, exatamente, no Centro Israelita, parte de
uma verdadeira usina de conhecimento, de fraternidade e, sobretudo, de grandeza
humana. A história de Porto Alegre passa exatamente pela história do Centro
Israelita. Por isso, paramos para homenageá-los. Fica-me apenas uma dúvida:
será que homenageamos aos senhores ou homenageamos a Cidade de Porto Alegre?
Esta é a dúvida, mas podemos responder, de vez que os senhores do Centro
Israelita fazem parte integrante, vibrante e decisiva da Cidade de Porto
Alegre. Por tudo isto paramos, na certeza de que estávamos a buscar a fonte e
uma parte da nossa amada, querida Cidade de Porto Alegre. Acho que estou
parafraseando o nosso colega eterno, Ver. Dib, em algumas coisas peço vênia a
S. Ex.ª para assim proceder, mas, aqui, nesta Casa, é um rodízio permanente,
ora um, ora outros. Mas temos que seguir a nossa jornada e aprendemos com
alguns.
O Sr. Presidente do Centro Israelita Porto-Alegrense Sr. Simão Cogan
convida os Senhores a passarem ao gabinete da Presidência da Casa.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h59min.)
* * * * *